Barcelona não é a cidade perfeita.

Há coisas que me deixam profundamente triste, infeliz e que me fazem sentir impotente e incapaz. Barcelona é uma cidade fantástica, sim, mas como todas as cidades fantásticas também tem os seus podres. E, para mim, estes podres passam por algumas pessoas que encontro de vez em quando. Não são pedintes. Não são pessoas que vendem pilhas, cerveja, pensos, lenços nas ruas. Não são pessoas que se maquilham e fazem de mimos para tirar fotografias com os visitantes e ganhar algum dinheiro. Não são prostitutas. São pessoas que, literalmente, comem os nossos restos. As refeições deles são o que nós já não queremos, o que deitamos fora. Sim, eles vasculham os caixotes do lixo e comem o que houver: restos de comida do McDonalds, restos de sandes, restos de Coca-Cola, de água, de sumo, de café, restos de fruta, restos de goffres, de bolos, de crepes, ou seja, tudo o que a nós já não comemos a eles serve de refeição. E é isto que me dói ver. É eu estar sentada a beber um capuccino no Starbucks, olhar lá para fora e ver esta triste cena. E depois é o que sentimos, o pensar que devíamos dizer/fazer alguma coisa mas o quê? Por muito que queiramos salvar o mundo, e eu sei que pequenos gestos contam, não é uma palavra, não é pagar um lanche, não é dizer não devias fazer isso que vamos mudar alguma coisa. Sim, Barcelona é bonita. Mas nas bonitas fotos que tiramos, nos lindos comentários que fazemos quando nos perguntam como é a cidade, eles são sempre esquecidos, invisíveis, eu diria, inexistentes.