Welcome to Tunisia*

14/09/2013



O prometido é devido. As férias na Tunísia parece que foram já há muito tempo, a intensidade destes últimos dias fazem com que pareçam que têm 48 horas e não 24, mas vamos ao que interessa.
Antes de mais porquê a Tunísia?
Antes de reservar a viagem, estávamos indecisos sobre os possíveis destinos para estas férias de Verão. Tunísia, Marrocos e Cabo Verde eram as opções em cima da mesa. E por diversos motivos, fomos excluindo as outras hipóteses e decidimo-nos pela Tunísia. E não estou arrependida da escolha.
Tal como já nos tinham dito, quando se vai para África tem de se ir preparado para tudo: é África, não é a Europa, logo há padrões a vários níveis que divergem. E uma pessoa tem de ir de mente aberta. Não me parece que se possa ir para a Tunísia ou para qualquer outro país arábe com a ideia de que vamos ficar numa qualquer cidade europeia com hábitos semelhantes aos nossos. Temos de respeitar e aceitar as culturas diferentes, ou então optamos simplesmente por não visitar este tipo de países.





Comércio: Quando se entra numa loja é comum oferecerem água ou chá. E se uma pessoa não aceitar uma coisa ou outra eu diria que, na cultura deles, é quase um insulto, mesmo que se tenha perfeita noção de que isso já faz parte da estratégia de marketing.
Já me tinha informado que na grande maioria dos casos, o preço praticado nas lojas é sempre 5 a 6 vezes superior ao preço normal. Aqui, tal como na Turquia, o lema é regatear sempre que se pode. Mas não é fácil e se num primeiro momento até pode ser “interessante”, depois fica-se sempre com a sensação de que, por mais que se negoceie, raramente se faz um bom negócio.
Houve várias situações que me demonstraram que a partir do momento em que eles percebem que estão perante turistas (basta perceber que olhavam logo para a pulseira no pulso que tínhamos com o nome do hotel) isso é sinónimo do “toca a ver se este cai na história”. Comprámos uma chicha por 25 dinares tunisinos, quando no início o senhor pediu-nos 125 dinares [sabíamos perfeitamente que 25 dinares era o preço mais praticado nas lojas para este artigo]. Desde já deixo este conselho: o melhor nestes casos é ir a lojas cujo preço dos artigos já está marcado, porque é muito mais fácil, sabemos com o que podemos contar. Se não está marcado, o vendedor diz o preço que quer e lá voltamos à velha questão do negociar. 
 

Condução dos tunisinos: péssima. Um horror. Mas depois de ter ido à Turquia, não esperava melhor dos tunisinos. Do aeroporto ao hotel percorremos 90 quilómetros num autocarro deveras interessante, onde as nossas malas não iam no porta bagagens, mas sim numa grade em cima do autocarro, presas por cordas. Fui a viagem inteira a rezar a todos os santos para que a minha mala não caísse, porque caso contrário “adeus mala, que ficaste perdida algures numa rua da Tunísia”. Conduzir numa estrada, cujo sinal indica que não se pode ir a mais de 50 km à hora, mas que afinal vai-se a 110 km é algo aparentemente mais do que normal para eles. E acho que nem vale a pena falar das ultrapassagens que eles fazem CONSTANTEMENTE, onde quer que seja. E para completar a cenário sobre a condução deles, nada como ir num táxi, a caminho do centro da vila de Madhia e o taxista falar para nós, virado para trás durante grande parte da viagem, e claro… a conduzir ao mesmo tempo. Eu achei que ia morrer embatida contra qualquer poste, carro ou afins. Mas vai-se a ver e se calhar eles têm menos acidentes rodoviários do que os portugueses. 
 



Património cultural: Não queríamos apenas um país que tivesse boas praias, mas também um país com história, com coisas diferentes para ver e visitar. É neste país que se encontra o terceiro maior anfiteatro mais bem conservado do mundo, a seguir ao coliseu de Roma e Cápua. As mesquitas também merecem uma visita, se bem que já tínhamos entrado numa em Antalya. O local que ficamos a conhecer melhor foi Madhia, um dos destinos turísticos do país pois era a vila mais próxima do nosso hotel. Ruas estreiras, entrecruzadas umas com as outras, casas caiadas de branco mas com fachadas coloridas e trabalhadas. Adorei a fachada de algumas casas. Mas sendo uma vila turística, a verdade é que encontramos algum lixo nas ruas, construções inacabadas, ao mesmo tempo que encontrávamos casas muito bonitas e grandes. É a contradição deste sítio: vemos carros a cair de podres e depois vemos carros topo de gama.
Muito embora não tenha propriamente interesse turístico, também foi interessante ver o cemitério local por trás da medina e perceber que, devido à sua religião, as campas encontram-se todas viradas na direcção de Meca. E penso que será assim nos restantes cemitérios espalhados pelo país.

Povo: São prestáveis, simpáticos, mas eu destacaria que a grande característica é terem um grande olho para o negócio, sendo que facilmente “enganam” os turistas se estes não estiverem atentos, mas sobre isso falarei mais à frente. Sendo a Tunísia um dos países mais liberais deste mundo arábe, as mulheres por quem passamos não usam o tradicional véu sobre o rosto mas a indumentária das tunisinas inclui o lenço sobre a cabeça e vestes longas. Confesso que achei que muitas mulheres e crianças tinham uma expressão triste. E isto é um comentário totalmente subjetivo mas foi o meu sentimento quando passei por algumas destas pessoas. Apesar de tudo, a mulher nesta cultura tem um papel ainda muito limitado. À noite são os homens que saiem para os cafés, foi comum passarmos por inúmeros locais ao ar livre cheios de homens a fumar chicha em amena cavaqueira. E mulheres nem vê-las. Pareceram-me um povo calmo. Não há stress na vida dele (para quê? Fazem eles muito bem). Quando está demasiado calor, é vê-los numa sombra. O país é um contraste, tal como eu esperava. Madhia, Hammamet e Sousse são zonas turísticas e como tal as infra estruturas são mais cuidadas, mas encontra-se igualmente lixo na rua, casas inacabadas, ruas esburacadas. Nas restantes zonas por onde passamos eu diria que reina um certo marasmo. Uma casa aqui, outra casa passado um bom bocado e muito terreno a fazer lembrar o deserto. 

 
Hotel: Num país como a Tunísia o melhor mesmo é ficar num hotel de 4 ou 5 estrelas. Nunca inferior a isso, porque nesse caso poder-se-á não se ficar muito contente com a escolha. Ficamos no Iberostar Royal El Mansour e não nos arrependemos minimamente. Sabíamos que havia muito boas referências deste hotel. No aeroporto, à vinda para cá, ouvimos alguns turistas a criticar os hóteis onde ficaram. Efetivamente o melhor é não facilitar na escolha e optar por cadeias internacionais, por vezes é melhor escolher um hotel mais caro mas com mais garantias de que a estadia vai ser um sucesso. Os quartos eram muito grandes (maior do que o que encontramos em Antalya) e a vista para o mediterrâneo de cortar a respiração.
O hotel tinha ótimas infra estruturas, se bem que temos que apontar que a formação de alguns funcionários terá de ser melhorada. A animação diurna e à noite era muito boa e a equipa que estava encarregue disso era simplesmente espetacular.


Clima: encontramos muito sol e isso já seria de esperar. O melhor mesmo foram as noites quentes. A primeira sensação, ao sair do aeroporto, já eram 21h, e o tempo estava mais que abafado. É o primeiro impacto. Aquele vento tão quente e seco na nossa cara. O mar é fantástico ou não estivéssemos no Mar Mediterrâneo: água limpinha, transparente. Com a água ao nível do peito conseguia ver na mesma os meus pés (bem como os peixes todos à volta). E como já sei mergulhar, nada como pôr os óculos e ver todos aqueles peixes ali tão perto de nós. Maravilhoso. Claro que com este clima, eu tenho de admirar as muitas muçulmanas que lá vi. Com um sol, por vezes abrasador, era vê-las no mar vestidas da cabeça aos pés, inclusive com o seu lenço a tapar a cabeça. E se passamos por muitas muçulmanas cujas roupas indicavam pobreza, a verdade é que dentro do hotel havia imensas que eram autênticos “ícones da moda”. Quem disse que uma muçulmana não usa sapatos Louboutin? E combinam ao pormenor o lenço da cabeça, a túnica, as sandálias e a mala.




Comida: Eles usam e abusam das especiarias e mesmo eu gostando de comida apetitosa, aquilo era um pouco demais para o meu estômago aguentar. Um simples molho de tomate é muito potente, como eu costumo dizer. Fomos num regime de tudo incluído e como tal, as refeições foram todas feitas dentro do hotel que tinha várias especialidades tunisinas ao dispor, paralelamente a comida mais “ocidental”. Confesso que não me apaixonei perdidamente pela sua gastronomia, continuando a preferir (muito) a nossa comida portuguesa tão boa.
O chá de menta deles é divinal. Pessoalmente o chá de menta nem no topo da minha lista de preferência está mas aquele chá tinha qualquer coisa. Era muito, muito, muito bom. Fez-me lembrar o chá que tomava no Marraquexe (um bar no Porto que infelizmente já fechou). Só lá é que bebia chá com aquele aroma. Claro que trouxe uma caixa de ervas daquele chá para fazer em casa. Vamos ver se é igualmente delicioso. 

 

Dinheiro: Na Tunísia a moeda usada é o dinnar tunisino. E nós tivemos a preocupação de antes de ir de férias passar na única loja de câmbios do Arrábida Shopping para trocarmos euros por dinnares. E este basicamente foi um dos grandes erros desta viagem. Dos 275 dinnares que levamos, foi-nos dito lá que 245 dinnares estavam em notas que já saíram de circulação. No final, não conseguimos perceber se fomos enganados cá ou lá [foi uma longa história]. Por isso o melhor é cambiar o dinheiro no próprio hotel e o que sobrar no aeroporto de Enfidha ou de Tunis trocam por euros. 


[eu sei que o post é longo mas efetivamente acho que faz falta informações sobre certos destinos. Se há locais cuja informação é, por vezes, em demasia, também o há outros que se caracterizam pela escassez de testemunhos. Um dia este longuíssimo texto pode interessar a alguém]

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