Como educadora social não é nada que já não esteja habituada. Eles entram-nos pelo gabinete todos os dias.Mas por muito que esteja habituada, nunca vou ficar indiferente ou olhar para estes rostos sem me importar, mudando de canal.
Quando era mais nova, ouvia sempre o meu pai a dizer que havia muito trabalho, que alguns é que não queriam trabalhar. Agora deixei de o ouvir e tenho a sensação que nem trabalho há(visto que o emprego já acabou há muito).
Ou seja o que é que sobra?
O RSI, o fundo desemprego, as formações, e o roubo. Bem vistas as coisas até são muitas opções(óbvio que roubar não é uma opção), porém são todas temporárias e duvido muito que alguém consiga estabilizar a sua vida com estas ajudas.Porque hoje em dia raras são as pessoas que conseguem viver com 400euros.Bem sei que estão a pensar:
-" Mas quem recebe esses 400euros gasta-o mal gasto".
É verdade, e eu sei que é injusto pois algumas destas pessoas que recebem o RSI, estourem-no em tabaco, cafés e lanches. É a verdade que todos podem confirmar. Estas pessoas são muitas das vezes os clientes habituais da pastelaria e do café mais próximo de casa. E isto revolta-me e da-me vontade de cortar o RSI, é óbvio que sim!
Mas se pensarmos bem, estas pessoas não tem mais para onde ir!Não têm emprego(geralmente o nível de escolaridade é muito baixo e com a falta de emprego...), não têm carro, não têm Internet ilimitada (apesar de terem pc, dado gratuitamente pelo estado aos filhos), não vão ao cinema (porque a prioridade é comprar maços de tabaco), não podem ir gastar dinheiro em roupas (porque geralmente recebem muita roupa de graça), não ficam em casa arrumar a casa (porque nem sequer gostam daquela casa, que não tem guarda-fatos, nem mármores nos armários da cozinha, nem quartos suficientes para os filhos, etc) logo onde é que estas pessoas haviam de passar o dia?
No café!No café falam da vida deles, ficam a conhecer a vida dos outros,identificam-se no que diz respeito aos problemas, vêem televisão à borla, não tem trabalho de aquecer leite e fazer torradas, podem fumar, podem inclusive gastar o maço todo, que ao lado têm outro!E por fim, sentem-se iguais aos outros!No café não são o casal que não tem dinheiro para a renda, que andam a pé, que ficaram sem água, no café são clientes. Só.Por isso é só vantagens!E não me venham dizer "ai, se fosse eu como não tinha dinheiro ficava em casa"!Tretas!
Ninguém fica em casa 30 dias seguidos. Quanto mais 30 multiplicado por 12vezes!
[atenção, não estou a dizer que aprovo, mas sim que compreendo o fascicínio pelo café]
É claro que muitos deles não se esforçam(não podemos generalizar) mas não podemos ver isto de forma isolada, temos sempre que perceber o percurso do indivíduo, que é determinante. O passado, a educação, a família, o meio, as dificuldades porque passou. Tudo englobado gera a pessoa de hoje.
A minha grande preocupação ao ver a reportagem consiste no provável aumento de casos como estes. Porque pessoas dependentes de subsídios vai sempre existir. E nós até ainda temos capacidade para dar resposta e acompanhar estas famílias. Mas se continuar a aumentar, torna-se literalmente impossível. Por isso ontem senti que estávamos muito perto do caos.Vejam e digam-me lá se ficam indiferentes.
http://sic.aeiou.pt/online/video/informacao/Reportagem+Especial/2009/3/historiasdedesemprego.htm
3 comentários:
Eu achoq ue tens toda a razão. É mais facil criricar do que tentar perceber. E falo porque eu as vezes também sou assim (agora menos deviso à minha profissão) e criticava as pessoas. Porque por umas padecem outras, é sempre assim!
E imagino que agora como tu trabalhas mais com essa realidade consigas ter um parecer mais pero da verdade. Aqui é tudo um bocado diferente. Aqui as pessoas vem em busca do El Dorado, a europa aibnda é vista como um sitio perfeito para trabalhasr mas chegam aqui e veem um pais com uma das maiores taxas de desemprego da europa e tem de sobreviver como podem. É triste mas é a triste realidade.
Beijinhoo*
É verdade, o caminho mais fácil é criticar e confesso que nunca tinha pensado nisto desta maneira.
Eu tenho a certeza que se estivesse no desemprego não passava a vida no café, requisitava livros e vinha para casa ler, via filmes, pintava, sei lá... Há imensas coisas que quero fazer e não faço por falta de tempo, mas a verdade é que eu tenho uma casa bonita e confortável, tenho maneira de ver os filmes, tenho internet, tenho uma aparelhagem para ouvir música, tenho algum dinheiro para comprar tintas, etc, etc, etc. Nunca me tinha passado pela cabeça o que disseste.
Eu sei que há quem tente e não consiga e sei que há o outro lado.
Espero mesmo que, no geral, as coisas melhorem...
Beijinho*
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