Violência domestica - Quebrar o silêncio

21/10/2009


Cabe a nós ajudarmos a quebrar o silêncio. Ouvi esta frase e fiquei com ela na cabeça desde o primeiro dia de formação sobre a violência domestica. Conheço vários casos, histórias tristes de mulheres que não tem outra possibilidade senão viverem com o agressor. Também já tive a opinião de que se quisermos conseguimos tudo, mas na prática há mulheres que por muitos motivos não conseguem libertar-se deste sofrimento. Enquanto técnica e educadora social aprendi nesta formação a identificar alguns sinais, tanto na vitima como nas crianças. Percebi também que muitas vezes as pessoas "inventam" outros problemas na "esperança" que um de nós lhe pergunte directamente se é ou não vitima de VD.
Tive momentos chocantes na formação, sobretudo quando vimos as imagens...bebés de semanas espancados, queimados, idosas cheias de negras, mamilos e mamas desfiguradas, tentativas de enforcamento...vi de tudo.
Ouvimos a APAV, a PSP de Coimbra, a GNR de Coimbra, os Enfermeiros dos Covões, a CPCJ de Coimbra, o D.I.A.P. , uma médica de medicina legal e a equipa de psicólogos do INEM e todos eles estão a trabalhar em rede, todos eles explicaram como agem perante um caso de VD. E eu confesso fiquei orgulhosa deste Projecto de intervenção em rede de Coimbra, por todo o empenho e o profissionalismo que colocam em cada família, vítima ou agressor.

E mais uma vez tive a consciência que somos toda(o)s precisas neste quebrar do silêncio:)

5 comentários:

Lua Escondida* disse...

Isto é uma daquelas coisas que eu tento perceber muito bem mas que não consigo. MAybe porque estou de fora e racionalizo muito as coisas, se tivesse dentro se calhar não pensaria assim! mas ainda bem que agora todos somos responsaveis, que podemos quebrar o silencio se o nosso vizinho bater na mulher! ainda bem que não é só a elas (e eles) que cabe esse papel!!


[E tu só fazes/vais a coisas bonitas e importantes aí!]

Boss disse...

Devo salientar que, após alguém me ter ensinado o caminho, é com prazer que por vezes leio o blog, parabéns!
No tocante a este assunto e porque o mesmo, por motivos atinentes à profissão, não me é estranho ou pelo menos não deve ser, entendo que a violência doméstica não escolhe só como vitimas as mulheres, aliás, cada vez mais é um fenómeno bipolarizado em que também os homens são vitimas, no entanto acho que atendendo ao estigma que tacanha e erradamente ainda existe sobre a preponderância na sociedade do elemento masculino, muitos deles não denunciam o assunto por vergonha, sem prescindir que, por arrastão, os próprios filhos do agressor e da vitima, são também vitimas, com a agravante de assistirem a tudo e não saberem o porquê....se é que alguém consegue explicar o porquê disso...
Por outro lado, concordo que seja de louvar todas as iniciativas tendentes a combater esse flagelo, no entanto acho que ainda existem muitas lacunas, pois deviam começar pelos meios mais pequenos e esquecidos, que, normalmente, é onde, por motivos diversos e que não interessa focar, existem mais casos de violência doméstica e, só depois, começar a chegar às grandes metrópoles, nas quais, a meu ver, as pessoas já estão mais informadas.
Quanto à responsabilidade que todos temos em denunciar tais situações, acho que enquanto não mudarmos a nossa mentalidade tipicamente tuga, no sentido de ajudar o próximo quando este precisa, abdicando de olharmos só para o nosso umbigo, não adiantará de nada.
P.S. desculpem o testamento, mas há assuntos que tocam e marcam.

Ana disse...

Olá!
É um fenómeno ainda muito comum, ainda são muitas as mulheres que morrem vitimas de violência doméstica!É um escândalo!
Não sei se já viste mas a sábado traz um artigo sobre a violência doméstica nas classes mais abastadas,é uma reportagem que arrepia!
Beijinhos

The Cherry on Top disse...

Claro, em classes mais abastadas também há violência doméstica. Tanta ou mais. Há é uma questão muito importante: a posição social impede que as vitimas façam as denúncias (sejam homens ou mulheres porque, como disse o Boss, é um fenómeno bipolarizado). Porque há um estatuto a manter. Porque, exactamente por ser mais abastada, há muito mais a perder. E, por vezes, as pessoas esquecem-se que a maior perda é de dignidade, respeito e amor-próprio.

Esta questão mexe bastante comigo. Como, aliás, tudo que sejam injustiças e violência.

Kiss*

Nokas* disse...

É daquelas situações que me custa a entender, porque uma relação a dois supostamente é algo que se constroi e onde podemos confiar no outro, onde aprendemos com o outro, mas infelizmente este é o cenário ideal que em muitos casos não é de todo uma realidade. E há muitas condicionantes e explicações para a permanência de uma vitima numa relação assim. E nem sempre é fácil trocar as voltas a este fenómeno, cada vez mais visível socialmente, mas ainda vivido com muita vergonha.