E isto irrita-me...

26/08/2010

"Em Portugal deveria acontecer o mesmo que na França. Aqueles que não têm trabalho deveriam ser expulsos pois só dão despesa. Sexo, sexo, sexo, carros, carroças, peças de carros...mai nada. É esta a rotina deles."

"A falta de higiene dos ciganos contribui para uma possível epidemia. Eles são foco de doença. Têm água e por preguiça nem se lavam. São uns porcos. O dinheiro do RSI é só prás negociatas das carroças."

O que mais me irrita nestes comentários é que sejam anónimos. Que mal tem em escreverem o vosso nome? Se calhar não fica bem, porque chamar porcos aos ciganos e dizer que quem não tem trabalho devia ser expulso do país, são actos descriminatórios.
Bem, ainda bem que eu arranjei emprego, se não daqui a pouco também queriam expulsar-me. Eu não vou por em causa se a França está a fazer o melhor pelo país, eu não conheço a realidade, não sei se vivem de facto, todos a roubar, a matar, e se são um foco de epidemia. Agora , o que eu acho é que depois disto a França não pode continuar a proclamar-se de "Pátria dos direitos humanas" . Porque isso é hipocrisia.
E vamos ser sinceros Sr. anónimo, gostava de trabalhar com um cigano romeno ao seu lado? Gostava de ir a um restaurante e ser servido por um cigano romeno? Como é que estas pessoas conseguem mudar de vida, se somos nós que os excluimos constantemente?

12 comentários:

a Gaja disse...

Há muita coisa que tem que mudar a começar pelo preconceito. Na verdade, os ciganos são um pouco resistentes a técnicas de inserção social, mas isso deve-se à cultura e aos hábitos deles que são totalmente diferentes dos nossos. Não acho que expulsar seja o correcto mas não conheço a realidade por isso não comento a esse respeito.

S. disse...

O mais engraçado é que as pessoas dizem "ah e tal estão aqui a roubar o emprego a quem precisa!".
O que é mentira, porque na maioria das vezes são as pessoas de fora que ficam com os empregos mais penosos e que ninguém quer.
E também se esquecem dos Portugueses que saem do seu pais a procura de melhores condições de vida, mas ai já é tudo normal. Enfim, mentalidade.

-Joana disse...

Odeio o preconceito. PONTO FINAL.

Gelatina de morango disse...

Preconceito é sempre mau. Mas então quando somos um país de imigrantes espalhados pelo mundo acho que esse anónimo devia reflectir mais um pouco antes de dizer essas coisas. E espero que ele nunca precise de ir para fora lutar por uma vida minimamente decente.

ana disse...

Bem, eu moro numa zona com bairros sociais e bastante marcada pela existência de comunidades ciganas.

É facto que o preconceito não leva a lado algum. Mas também é facto que querendo viver a nossa vida com pessoas que não sabem estar em sociedade, não esta geralmente aceite, sem invadir o espaço de outros, não é fácil e acredito que provoque reacções de alguma xenofobia.

Porque viver 24 horas por dia com a imundice nas ruas, o barulho, as carrinhas a ocuparem tudo, ouvir gritos a altas horas da noite, ter miúdos mal educados a subir portões e a fazer asneiradas na casa dos outros, a meter-se com as pessoas na rua sem dó nem piedade... Isso, garanto-vos, não é fácil.

Na minha rua mora uma família de ciganos. Sou educada como sempre fui, cumprimento as pessoas na rua como sempre fiz com toda a gente. Mas não é fácil. Não é fácil como não o é viver com pessoas não ciganas que causam os mesmos problemas.

A questão é que neles é geral, por cultura, talvez. Eu não discrimino, mas vivo no mau ambiente que algumas pessoas causam. Pergunto: não teria que existir uma adaptação das pessoas ao que é a sociedade em geral?

Em relação às expulsões francesas. De notar que estão a expulsar do país pessoas que estão ilegais. Algo que no nosso país também é controlado, certo? Pelo SEF. Penso também que está a existir grande aproveitamento político e mediático do assunto. Para mim, não se trata de serem ciganos, pretos, amarelos ou azuis às riscas, trata-se de serem pessoas que não estão legais. E lembro os problemas sociais que isso acarreta. Como se já não tivéssemos bastantes...

Volto a frisar pois não sei se se entende pelas minhas palavras: não sou racista nem xenófoba, mas acho que muitas vezes, por estar na moda proclamar os direitos das pessoas, se esquecem os deveres delas. E muitas destas pessoas não os cumprem. Isso posso assegurar, pela realidade que conheço bem à porta de minha casa.

Lila* disse...

Ana, eu trabalho em bairros sociais. Conheço de cor as queixas das pessoas, e muitas vezes também eu pergunto-me como conseguem viver assim? Ainda outro dia falei com alguns moradores que tem de viver com um toxicodependente, que trafica e tem armas em casa. E eu confesso que admiro muito estas pessoas, pessoas que tem filhos e que conseguem viver no mesmo prédio com outras pessoas que as ameaçam, que não as deixam dormir de noite, que trazem para dentro da Entrada pessoas ainda mais perigosas.
Tenho visto e aprendido tanta coisa. Pessoas sempre à janela, música nas alturas (eu chamo-os de DJS do bairro), conflitos e quezilas entre mulheres, que se insultam por tudo e por nada, entradas porcas, pessoas a fazer xixi nos elevadores, cães perigosos, mas depois também vejo pessoas como eu, como os meus pais. Pessoas com casas limpas, com filhos nas faculdades, que tentam mudar e fazer algo para que tudo melhore. Cabe sempre às pessoas a mudança. Eu aprendi a não generalizar. Aprendi que há pesoas a defenderem toxicodepentes, porque nem todos são iguais, nem perigosos. Aprendi que há miúdos que se safam, mas também aprendi que em determinados casos devemos simplesmente deixa-los seguir o seu caminho. Eu gostava de poder fazer mais por todos aqueles que vivem com pessoas “perigosas”, mas será que há soluções?
Vamos criar bairros para ciganos? Para traficantes?
É que muitas vezes eu não sei o que é melhor. Não sei se esta será a solução (eu sei que passa sempre pela inclusão) mas a inclusão tem de ser efectiva e nunca vai haver meios para isso. Quanto aos ciganos, é verdade que há questoes culturais subjacentes muito fortes, mas eu confesso-te que até hoje ainda não tive um único cigano a faltar-me ao respeito. Pelo contrário, cumprem sempre o que eu lhes peço a tempo e horas. Se são porcos? Se não descontam? Se roubam para vender nas ferias?
Não faço ideia. Já vi ciganos muito sujos e já vi ciganos limpos. E já todos conhecemos muitos políticos que não descontam o que ganham, empresários a roubar fortunas, primeiro-ministro mentiroso, por isso não sei se os ciganos são o mal do país. Não sei se os benefeciarios do RSI, que recebem na sua maioria quantias de 80 a 100 euros são assim tão culpados.
Mas lá está…cada caso é um caso. E estes miúdos dos bairros se agarrarem esta oportunidade, podem mostrar-nos o lado bom do bairro e podem também provar que são capazes de vencerem na vida

Lila* disse...

Ana, eu trabalho em bairros sociais. Conheço de cor as queixas das pessoas, e muitas vezes também eu pergunto-me como conseguem viver assim? Ainda outro dia falei com alguns moradores que tem de viver com um toxicodependente, que trafica e tem armas em casa. E eu confesso que admiro muito estas pessoas, pessoas que tem filhos e que conseguem viver no mesmo prédio com outras pessoas que as ameaçam, que não as deixam dormir de noite, que trazem para dentro da Entrada pessoas ainda mais perigosas.
Tenho visto e aprendido tanta coisa. Pessoas sempre à janela, música nas alturas (eu chamo-os de DJS do bairro), conflitos e quezilas entre mulheres, que se insultam por tudo e por nada, entradas porcas, pessoas a fazer xixi nos elevadores, cães perigosos, mas depois também vejo pessoas como eu, como os meus pais. Pessoas com casas limpas, com filhos nas faculdades, que tentam mudar e fazer algo para que tudo melhore. Cabe sempre às pessoas a mudança. Eu aprendi a não generalizar. Aprendi que há pesoas a defenderem toxicodepentes, porque nem todos são iguais, nem perigosos. Aprendi que há miúdos que se safam, mas também aprendi que em determinados casos devemos simplesmente deixa-los seguir o seu caminho. Eu gostava de poder fazer mais por todos aqueles que vivem com pessoas “perigosas”, mas será que há soluções?
Vamos criar bairros para ciganos? Para traficantes?
É que muitas vezes eu não sei o que é melhor. Não sei se esta será a solução (eu sei que passa sempre pela inclusão) mas a inclusão tem de ser efectiva e nunca vai haver meios para isso. Quanto aos ciganos, é verdade que há questoes culturais subjacentes muito fortes, mas eu confesso-te que até hoje ainda não tive um único cigano a faltar-me ao respeito. Pelo contrário, cumprem sempre o que eu lhes peço a tempo e horas. Se são porcos? Se não descontam? Se roubam para vender nas ferias?
Não faço ideia. Já vi ciganos muito sujos e já vi ciganos limpos. E já todos conhecemos muitos políticos que não descontam o que ganham, empresários a roubar fortunas, primeiro-ministro mentiroso, por isso não sei se os ciganos são o mal do país. Não sei se os benefeciarios do RSI, que recebem na sua maioria quantias de 80 a 100 euros são assim tão culpados.
Mas lá está…cada caso é um caso. E estes miúdos dos bairros se agarrarem esta oportunidade, podem mostrar-nos o lado bom do bairro e podem também provar que são capazes de vencerem na vida

ana disse...

Sim, sim, mas eu nem estava contra este tipo de iniciativas. Apenas pretendi mostrar como facilmente se sai de um discurso tolerante para um discurso racista e xenófobo.

É pela convivência que nem sempre é saudável. E depois as pessoas excedem-se. Mas como dizes, eu não generalizo de forma alguma. E como disse, eu tenho uma família dessas a viver aqui na rua e no simples «bom dia» trato-os como qualquer outro vizinho. Só que é realmente difícil viver desta forma e, confesso, estou mortinha por sair daqui.

Mas trabalhando em bairros sociais e, como já explicaste, compreendes essa parte :)

Beijinhos :)

Bruno Luis Rodrigues disse...

Eu trabalho com esta etnia há 2 anos e nunca tive problemas. Se não fosse os ciganos acredite, senhor ou senhora anónimo(a), quase não existiam crianças em Portugal. Já reparou? Oh Lila há comentários que não deveriam ser colocados on-line. "Porque será que na blogoesfera social portuguesa ainda não li quaisquer comentários às recentes expulsões dos ciganos (de França e Itália)?" questionei no meu blogue. Porque dá confusão!

ana disse...

Bruno, permita-me que o trate assim, penso que isso que disse não é indicativo de nada. Trabalha com eles, não vive com eles. Acho que nesta hora não vale a demagogia. Como também não vale o insulto gratuito.

Há que reconhecer os problemas e um deles é não se encarar as coisas como elas realmente são. É um problema social, por mais tolerantes que sejamos, por mais amistosos que consigamos ser na convivência. E a generalização não é justa para o lado mau como também não o é para o lado bom. Quem trabalha com comunidades em risco social tem que ver as coisas claramente. E trabalhar os dois lados, para que haja uma maior aproximação. Não atirando pedras a quem, por alguma razão, insulta. Pode não ser gratuito.

Não vamos agora fazer de algumas pessoas coitadinhas e ostracizadas. Há que perceber os casos e não ter que dar razão a nenhum dos lados, fazendo com que não existam lados.

Há pessoas honestas e desonestas em todas as raças, credos e quadrantes. Mas no caso das expulsões, e corrijam-me se não estou a ver bem as coisas, estão a ser feitas com base na legalidade ou ilegalidade das pessoas nos territórios nacionais em causa. Certo? Eu, sinceramente, não vejo como uma questão de xenofobia, apenas como uma arrumação da casa. Porque, sabem tão bem quanto eu, sem tapar o sol com a peneira, que pessoas ilegais num país, que não conseguem arranjar emprego, que vivem em condições desumanas muitas vezes, constituem uma janela para o nascimento de problemas bem mais graves. Ficar adianta-lhes alguma coisa? Não. Mas se calhar adianta a todas as outras pessoas.

Ressalvo, porque, como diz, é algo que dá confusão, que não sou racista nem algo que se pareça. Respeito as pessoas como isso mesmo, pessoas. Mas tento olhar para tudo friamente. Sem esses empolamentos mediáticos. Não me parece que seja racismo. Não me parece de todo. Mas é apenas a minha visão.

Lila* disse...

A questão aqui é, quantas pessoas estão ilegais em França?

É esta a quaestão.

ana disse...

Talvez muitas. Mas há que começar por algum lado, digo eu. E realmente pessoas que vivem em acampamentos, sejam de que raça sejam, talvez devam ser os casos urgentes. Porque todos nós, vivendo com um acampamento de pessoas ao lado, que se tornam um foco de problemas, independentemente da raça que tenham, gostaríamos de ver esse mal resolvido.

Da mesma forma que aqui apanham as senhoras que trabalham à noite, ilegais, e lhes dão o mesmo destino. Da mesma forma que controlam as pessoas que se apresentam com vistos de turistas e permanecem no país, tendo que arranjar um emprego para se justificar a sua estadia.

Racismo seria expulsarem todos os ciganos ou todos os africanos ou o que seja. É a minha forma de ver.

Basta pegarmos nas palavras ditas ali em cima, ditas por ti, Lila:

"E eu confesso que admiro muito estas pessoas, pessoas que tem filhos e que conseguem viver no mesmo prédio com outras pessoas que as ameaçam, que não as deixam dormir de noite, que trazem para dentro da Entrada pessoas ainda mais perigosas."

E eu pergunto: quantas pessoas poderão cair nas mesmas situações problemáticas por influência e convivência com casos como aqueles graves, por respeito a algo moral - a tolerância - que se resolveu colocar acima de qualquer outra coisa? Não haverá casos em que não existe mais nada a fazer senão evitar possíveis novas vítimas?

Eu entendo que vocês sejam pessoas tendencialmente, por profissão, mais colocadas para defender as pessoas que existem por trás de flagelos. Mas depois há os outros, a dita maioria, que também necessita de ser cuidada.

Mas vá, fico-me por aqui que dá pano para mangas e é daquelas discussões que mexe com análises pessoais e visões muito particulares pelas nossas experiências. Não se espera que ninguém mude de opinião.

Quero agradecer-vos o "bocadinho", é bom falar das coisas :)