Comove-me a história de vida de algumas pessoas. É impossível ficar indiferente a determinadas situações. Na faculdade não nos ensinam a evitar que certos casos mexam connosco.
Estou a trabalhar com desempregados de longa duração (> de 12 meses) que foram encaminhados pelo IEFP para aumentarem o seu nível de escolaridade. Como se isso lhes fosse garantir um futuro melhor…
Acho que sim, que fazem muito bem aumentar o nível de escolaridade. É bom para eles verem reconhecidas as suas competências, adquiridas ao longo da vida, através das suas experiências.
Mas corta-me a alma ouvir algumas pessoas dizerem que vão a empresas pedir trabalho [estes não vivem acomodados com um subsídio, não lhes chega, querem mais!] e que olham para eles e, de seguida, para a data de nascimento e dizem que não têm trabalho para eles. “Somos velhos para trabalhar, mas novos para a reforma, menina!”. É isto que eles me dizem.
São pessoas que me contam as suas experiências com lágrima nos olhos. Porque tem 50 e poucos anos, mas parecem muito mais velhos. As experiências que viveram fizeram com que envelhecessem, mais do que seria de esperar.
E depois há o Sr. que vive a 16 km, numa aldeia no meio da serra [podem imaginar que a estrada não é melhor!!!] que me diz que vai fazer o esforço de fazer este trajecto de scooter porque quer uma vida melhor (a quanto está mesmo a gasolina!?) e porque não quer que o excluam do centro de emprego. Diz-me, ainda, que se chover não pode vir. Claro.
Há, ainda, aqueles que, com tantas dificuldades, me pagam o café e a torrada como forma de agradecimento pela atenção que lhes dispenso. Faz parte das minhas funções. E da minha maneira de ser. É apenas 1€ e picos, mas é o dinheiro deles.
Há aqueles que vêm relutantes e me garantem que não vão fazer nada e que só estão ali porque são obrigados. E obrigam-me a pensar em mil e uma formas de os conseguir pôr a trabalhar. No dia seguinte, trazem tudo feito. E basta para eu ficar contente.
Têm o 4º ano. Há muito que se esqueceram como se escreve. Não estão habituados. Não lhes é pedido para subirem a um andaime. Tem vergonha de não serem capazes e dizem-me “Oh menina, não repare nos erros. Já lá vão tantos anos…”
Acima de tudo, irrita-me e revolta-me este país que vai afundando um bocadinho mais todos os dias. Porque TGV´s [quem vai usá-los? Chego mais rápido a Madrid/Vigo de avião!], aeroportos, auto-estradas, salários milionários para gestores de empresas públicas…isso sim é importante. É tudo muito bonito, mas só “para inglês ver”.
Vivemos numa maçã bonitinha e brilhante por fora, mas podre, totalmente podre, por dentro.
7 comentários:
Já chorei a ler o teu texto...
Rita
como tens razão, minha Buny. é um com tanto e outros com tão pouco ou mesmo nada.
Há situações muito complicadas. E devo dizer que me tocam particularmente.
Tenho muita pena destas pessoas , mas é incrivel como apesar de todo o mundo lhes fechar a porta, nunca desistem e acreditam que conseguem uma vida melhor!
Tens um papel importante na vida deles :)
Disseste tudo, ainda bem que ao menos essas pessoas têm uma pessoa que possa "atender" da melhor forma e que tem sensibilidade para reflectir nisso.
Sem duvida que o nosso pais esta uma m****... eu como gostava de estar no nosso País a trabalhar, junto das pessoas que me são queridas, infelizmente estou longe, mas pronto vou me aguentado. Esperamos sempre por dias melhores.
Gostei muito do teu texto Bunyssa. Escrevi sobre este assunto embora mais focado sobre os jovens. E não consigo compreender como é que num cenário de crise em que o país cada vez vai piorando as pessoas em vez de se unirem para conseguirem que as coisas melhorem dizem que temos é de aceitar coisas fora da nossa área e a receber mal como se a solução fosse essa e não lutar para que melhore.
é tão verdade.... ouço e vejo o mesmo todos os dias no trabalho :(
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